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O Arq. Ricardo VEIO à Marcenaria


Arq. Ricardo Borges de Souza


Com o dom da palavra, tem sempre uma história para contar, com leveza e boa disposição. As palavras, iilustra-as com cores e texturas, coleccções imensas de memórias materiais e imateriais riquíssimas.

Pedras, fósseis, música e amigos, num caos criativo fértil que inspira e caracteriza a obra deste arquitecto com mãos de marceneiro.

O Arq. Ricardo Borges de Souza VEIO à Marcenaria e ficou. Faz parte da equipa! E desenhou uma peça absolutamente magnífica que está, já há uns meses a a ser construída pelos nossos mestres artesãos.

Fiquem para conhecer melhor o Arq. Ricardo!



Que imagens e sensações lhe traz a palavra marcenaria? Quando pensa em marcenaria pensa em…?

Imagens de madeiras em bruto a serem transformadas por homens claramente apaixonados pela sua profissão, conseguindo transformar um tronco de uma árvore numa peça esplendorosa com infindáveis horas de carinho e dedicação.

penso na minha infância e no privilégio de poder “brincar” junto dos mestres marceneiros, ajudando no que era possível e aprendendo a ver, começando a ter a sensação de começar a pertencer a um mundo adulto


Tem alguma madeira preferida?

O pau rosa pelos seus veios e diferentes tonalidades e pelas suas características acústicas.


Qual é a peça de mobiliário mais antiga que tem em casa?

Um móvel do séc XVII em carvalho.


Qual foi a maior loucura que já fez por uma peça?

Ir buscar um louceiro em vinhático a Sevilha.


Se pudesse ser marceneiro por um mês, que peça construía?

Uma secretária sem dúvida.


Qual é a sua peça de sonho? Se ganhasse a lotaria, que peça encomendaria à Marcenaria já hoje?

Uma grande armário em buxo e pau rosa para guardar as minhas guitarras.


Qual a sua memória mais antiga de marcenaria? Alguma peça que o remeta para a infância?

O móvel do séc.XVII de que falei onde eu, miúdo, via o meu pai esconder o queijo camembert que não queria no frigorífico e que quando se abria a porta, com um som característico, perfumava a casa com um cheiro intenso a queijo.

Ainda hoje quando abro as portas do armário me lembro do meu pai.


Como profissional ligado durante muitos anos ao desenho de mobiliário e às oficinas de marcenaria da F.R.E.S.S qual o conselho que deixaria hoje a um marceneiro do séc. XXI?

Um recado muito simples – não se deixarem intimidar pela tecnologia, (que tem grande importância na agilização de determinados processos) nem se entristecerem pela sensação de uma certa indiferença, que existe hoje em dia, por aquilo que é feito à mão. Devem interiorizar que existe e existirá sempre quem distinga e valorize as artes decorativas, nomeadamente a marcenaria e nenhuma máquina em tempo algum conseguirá dar a mesma “alma” a uma peça manufacturada – a mão do artista será sempre essencial.


A madeira é uma matéria prima especial? Porquê?

Por ser natural, em primeiro lugar, por ter uma infindável forma de se mostrar, com texturas, cores, cheiros diferentes e uma infindável panoplia de opções para quem quer criar e como me disse faz muitos anos um Mestre – a madeira nunca morre, muda de estado e “mexe” toda a vida.


Qual a arte decorativa da marcenaria portuguesa que mais o fascina?

A talha - pela dificuldade na execução tendo em conta a terceira dimensão,não permitindo erros nem emendas e não existindo nenhum desenho que possa ser “completo” em relação à peça a executar – é a arte onde se sente mais a “mão” do executante, a sua capacidade de entender a tridimensionalidade e onde se pode garantir que não existem duas peças rigorosamente iguais.




Um projeto nesta área que o tenha marcado?

Tenho que falar em dois projectos por razões diferentes ;

O Gabinete de Curiosidades da exposição A EVOLUÇÃO DE DARWIN na Fundação Calouste Gulbenkian encomendado à FRESS em 2009, que me obrigou a um estudo profundo (com a preciosa ajuda do Professor José Feijó) e me permitiu o desenho do Gabinete, de todas as peças nele incluídas, caixas,expositores e objectos relacionados com o máximo de rigor histórico .

A Loja FRESS na Rua de São Tomé pela dificuldade de “forrar” as paredes do chão ao tecto com móveis expositores construídos com processos clássicos, com o rigor do milímetro, sem tornar o espaço monotono e pesado incluindo também longos candeeiros de latão. Móveis altos, contemplando espaços para exposição de peças, armazenamento de stock e estiradores para melhor se poderem ver as peças em exposição.Tudo em madeira de carvalho e puxadores e entradas de chave em pau-santo.


Qual/quais as suas motivações para desenhar peças de mobiliário em madeira?

Pura paixão – um amor antigo, provavelmente uma herança genética, um gosto por conviver com o material de que mais gosto e a satisfação de ver a peça pronta, que por vezes me dá grandes momentos de angustia e incerteza na fase da sua concepção – mas que acaba num final feliz.


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VEIO n.m.

Designação de uma faixa alongada e relativamente estreita que, na terra, nas rochas ou na madeira, se diferencia pela tonalidade distinta ou pela essência da respetiva substância;

Verbo VIR - Conjugar

(latim venio, -ire, vir, chegar, cair sobre, avançar, atacar, aparecer, nascer, mostrar-se)

verbo transitivo, intransitivo e pronominal

Transportar-se de um lugar para aquele onde estamos ou para aquele onde está a p pessoa a quem falamos; deslocar-se de lá para cá.

Chegar e permanecer num lugar.

As entrevistas VEIO são mais uma forma de fazer prosperar a arte da Marcenaria Portuguesa. Por aqui vão chegar e permanecer os amantes da madeira, da decoração e das artes decorativas, os artesãos e artistas portugueses cujas áreas de actuação são um complemento à Marcenaria e que, de alguma forma, casam bem com as nossas madeiras.

Acompanhem as próximas. Sugiram entrevistados.Também podem vir e ficar.


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